Victor Valente

LISBOA, 23 ANOS, 25 DE ABRIL

Tinha eu então 23 anos e estudava na Escola Superior de  Teatro do Conservatório Nacional.  Por isso vivia em Lisboa.
Dormia eu descansado nos braços da então bem-amada quando uma mulher nua entra no nosso quarto, aos berros: “Victor, acorda, está a haver uma revolução. Vamos pr’a rua!”
Era ainda muito cedo, quase de madrugada para os nossos hábitos normais. Foi uma pressa a vestir; lavar a cara penso que nem nos lembrámos disso. A Revolução era muito mais importante.
Peguei na máquina fotográfica e saímos, amontoados dentro da minha Dyanne; 6 ou 7 devíamos ser.
De Santa Cruz de Benfica diretos ao centro de Lisboa, via Monsanto, à procura da Revolução. Ao chegarmos á Praça de Espanha surgem os primeiros sinais de que, afinal, era mesmo verdade. Tanques e soldados junto à Embaixada de Espanha. Direcção Fontes Pereira de Melo e Marquês de Pombal. Passavam uns jipes, viam-se aqui e ali alguns militares.
Avenida da Liberdade abaixo até aos Restauradores. Aí a coisa começava a ser séria: sacos de areia, barricadas, metralhadoras… Era mesmo verdade! 
Parei o carro em cima dum passeio da Avenida (nesse dia nem pensar em multas) e seguimos a pé,
Entre gritos, cravos, tiros, gente soldados, disparei a minha Nikkormat EL sempre que a situação o permitia.
Aqui vos deixo, para que a memória não se apague, algumas das fotos que tirei no dia em que o povo estava em festa e saiu à rua.

“Foi bonita a festa, pá!”

Algumas destas e outras fotos fazem parte da minha exposição “Lisboa, 23 anos, 25 de Abril” que tem, ao longo dos anos, percorrido diversos espaços, associações, sindicatos, municípios, bibliotecas, etc, sendo de destacar o Museo Nacional de Cáceres (Espanha), a Reitoria da Universidade de Lisboa, o Cineteatro Alba, a Biblioteca Municipal de Estarreja.

Scroll to Top